segunda-feira, 24 de junho de 2024

A LUNETA ÂMBAR #7

CAPÍTULO 7: MARY, SOZINHA

Mary Malone, a tentadora que o Padre Gomez estava planejando seguir, estava sendo, ela própria, tentada. Um casal idoso que havia acolhido Mary em sua casa lhe deu mais comida do que ela podia carregar e não queria deixá-la ir embora. Eles a viam como um talismã, pois os espectros não chegavam perto dela. Mary partiu e, já longe da fazenda onde foi acolhida pelo casal, sem saber o que fazer, pois a última instrução que Mary havia recebido das Partículas de Sombra, conhecidas por Lyra como Pó, foi para que atravessasse pela abertura na Oxford onde morava, a Oxford no mundo de Will.

Mary pegou em sua bolsa um livro que ela tinha há vinte anos: um comentário do método cobra de adivinhação, o I Ching. Ela o levou por dois motivos. Um era sentimental: seu avô lhe dera o livro. O outro era que Lyra descobriu e afirmou que o Pó tinha muitas outras maneiras de falar com os seres humanos, e uma delas era o método da China que usava os símbolos que estavam no livro. Ela pegou pequenas varetas de milefólio que usava para ler o livro e começou a lê-lo. O livro mostrava algumas mensagens enigmáticas, e Mary deduziu que ele dizia para ela se mover em direção ao alto. Ela guardou o livro e as varetas e começou a subir pela trilha.

Quatro horas depois, estava anoitecendo e ela já estava muito cansada. Ela chega ao fim da trilha e parece encontrar o lugar que a mensagem enigmática dizia. Havia uma janela para outro mundo e ela atravessa. Do outro lado, havia uma pradaria e uma ampla luz dourada, diferente de tudo o que ela jamais havia visto em seu mundo. Havia árvores duas vezes e meia mais altas que as árvores de seu mundo. Havia animais no pasto que se movimentavam com estranheza, mas ela não soube definir exatamente. Com sede e faminta, ela achou uma infiltração de água límpida saindo de uma fissura coberta de musgo e uma minúscula corrente de água que descia pela encosta. Bebe um pouco e enche suas garrafas. Depois, deitou-se em um saco de dormir e adormeceu.

Na manhã seguinte, Mary acorda e começa a caminhar pela pradaria. Encontra uma abelha do tamanho da articulação superior de seu polegar, mas quando a abelha se afastou das pétalas, viu que não era um inseto. Um momento depois, sentou-se em seu dedo, encostando um bico longo como uma agulha contra sua pele, e então levantou voo quando não encontrou néctar. Era um minúsculo beija-flor. Ela seguiu andando e foi em direção ao rebanho daqueles animais que tinha visto na tarde anterior e que a deixaram intrigada, sem saber por quê. Chegando perto, o que a deixou espantada foi a disposição de suas pernas. Cresciam em forma de losango: duas no centro, uma na frente e uma debaixo da cauda.

Já era quase meio-dia. Mary deita-se embaixo das gigantes árvores para descansar um pouco, se perguntando por que os animais não vão para a sombra das árvores nessa hora do dia. Uns 15 minutos depois, veio um estrondo que fez o solo tremer, e então mais outro. Mary olhou, assustada, e viu um objeto redondo, com cerca de 90 centímetros, rolando no solo. E então caiu outro. Ela viu a coisa despencar e se chocar contra a raiz do tronco mais próximo. Ela pegou sua mochila e saiu correndo de debaixo das árvores. Ela pegou um objeto para observar e se deu conta de que eles estavam presos às árvores.

Depois, Mary escuta um rugido baixo semelhante a um trovão e vê uma nuvem de poeira vindo em direção a ela. Mary se esconde em meio às enormes raízes das árvores e vê a nuvem se aproximar. Era um rebanho de animais providos de rodas. Mas isso era impossível, ela pensou. Havia cerca de uma dúzia deles. Tinham chifres na cabeça e trombas curtas como as de elefantes. Tinham a mesma estrutura em formato de losango que os outros, mas as patas da frente e de trás tinham uma roda. Quando eles pararam, a menos de 50 metros, ela pôde perceber que as rodas eram nozes. Eles estavam à procura de quem tirou a noz da árvore.

Mary saiu do meio das árvores e se mostrou aos animais. Os animais começaram a repetir tudo o que Mary falava e depois riam. Tocavam nela com a tromba. Um dos animais tocou em seu próprio peito e falou a palavra "Mulefa". Mary repetiu e eles riram. Outro emitiu um som que fez com que o rebanho que pastava se aproximasse. Ele estendeu a tromba embaixo de um deles e começou a ordenhá-lo. Depois, a criatura levantou a tromba até a boca de Mary e esguichou um pouco do leite doce e fino dentro de sua boca. Mary abraçou a cabeça do animal e o beijou. Depois, o líder barriu e os animais do pasto se afastaram. Os mulefas estavam se preparando para ir embora. Mary ficou feliz por eles a terem recebido bem e triste por eles estarem partindo. Os animais começaram a acenar com a tromba, convidando-a para ir com eles. Mary montou em um deles e partiram.

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